terça-feira, 16 de junho de 2009

Renovação Urbana

Já todos nós nos apercebemos do abandono em que se encontram os centros históricos do nosso país. Esse abandono não se traduz apenas no êxodo das pessoas para as periferias, traduz-se também na degradação do próprio edificado que é deixado para trás, bem como dos espaços públicos que carecem de uma vitalização fundamental para atrair novos mercados turísticos.
É certo que o movimento modernista na Arquitectura e no Urbanismo originaram a expansão massiva dos perímetros urbanos e a consequente criação de guetos onde a qualidade de vida deteriora-se a cada dia que passa. Neste sentido, há que reflectir acerca destas questões que estão a "matar" as nossas cidades e intervir de forma a que não se repitam erros semelhantes.

Há uns dias coloquei aqui uma sondagem em que questiono aos utilizadores deste espaço, se pintar uma frente de rua significa exercer uma renovação urbana, e por mera coincidência ontem no programa da RTP1, "Prós e Contras", o tema foi a renovação urbana das nossas cidades. Muita coisa se falou e muito se "bateu" nas questões da Lei do Arrendamento. Eu até compreendo a problemática das rendas congeladas desde o Estado Novo, só não aceito é que a utilizem como solução exclusiva para a renovação urbana das nossas cidades. A meu ver, a renovação urbana das nossas cidades não passa apenas por recuperar os edifícios que existem degradados, há que atribuir-lhes novos usos que correspondem aos novos paradigmas que a nossa sociedade enfrenta. Não basta recuperar as fachadas dos edifícios da Baixa Pombalina, há que dotá-los de funções atractivas há instalação de outras actividades económicas que por sua vez irão atrair população a fixar-se novamente nos centros.

Não podemos simplesmente reforçar as estruturas edificadas, dotar-lhes de novos materiais mais modernos e seguros, há que alterar-lhes o conteúdo por forma a corresponder aos diversos usos necessário, e nisto eu acho gravíssimo a forma como o IGESPAR e as próprias autarquias "estrangulam" a criatividade dos arquitectos no que respeita à reabilitação de edifícios. A renovação de um quarteirão poderá passar apenas e simplesmente pela interligação interna dos vários edifícios que compõem esse mesmo quarteirão para que nessas áreas se instalem equipamentos de grandes dimensões.

Mas se olharmos para o elemento que "matou" os nossos centros históricos, logo verificamos que o automóvel e o modelo energético associado a ele, originaram os grandes movimentos modernistas e com eles a morte dos centros históricos. A necessidade de nos deslocarmos por automóvel, levou a que a estrutura viária tomasse outras dimensões, dimensões estas que os centros históricos por vezes não suportam. Para além das rodovias, os estacionamentos são também infraestruturas que maior ocupação de área exercem num centro histórico. Até poderia sugerir que se acabasse com o automóvel nos centros históricos, mas secalhar essa medida é tão drástica que levaria mesmo a que ninguém lá s deslocasse por uma simples razão, a ineficiência dos nossos transportes públicos. Estes se não garantem uma boa acessibilidade às diversas áreas da cidade, então não podem concorrer directamente com o automóvel. Sendo assim, e retomando o assunto anterior, eu proponho a reabilitação de algum edificado degradado para estacionamentos verticais mas de uma forma estratégica, isto é, não podemos escolher os edificados que estão mais degradados e torná-los em estacionamentos verticais. Há que localizá-los em pontos estratégicos que garantem um fácil acesso não só ao seu interior, como a partir dali se possa aceder de forma pedonal ás mais diversas áreas de interesse da cidade.

Mas com toda esta preocupação de recuperar os centros históricos e voltar a ter lá pessoas, eu pergunto-me o que será feito então com as zonas de periferia urbana, que não são mais que "dormitórios" que carecem de uma estrutura de espaços públicos e equipamentos. Ficarão degradados e abandonados como aconteceu com os centros históricos?

Daí achar que quando se fala em renovação urbana, não podemos apenas afirmar que o problema se encontra na Lei dos Arrendamentos, primeiro há que garantir uma forte procura e depois há que garantir uma coesão social e territorial por forma a não andarmos constantemente a "tapar buracos" criados pelas nossas próprias medidas de intervenção.

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